Entrevista para Alexandre Garcia

– Pode a musicoterapia substituir um tratamento convencional psicológico?

Em relacao à  eficácia do tratamento, sim: a musicoterapia pode ser utilizada para tratar o lado emocional e psíquico das pessoas e dá excelentes resultados. Em relação à abordagem,  a musicoterapia não substitui a psicoterpia, porque são formas diferentes de se tratar um mesmo problema: a psicoterapia tem um enfoque verbal,  enquanto a musicoterapia tem um enfoque não-verbal, ou seja, é realizada através da utilização dos sons e não da fala da pessoa.  O que tem se tornado comum é a utilização das duas praticas simultaneamente, onde o musicoterapeuta dialoga com o psicoterapeuta, acelerando o processo terapeutico, sobretudo porque a música é um grande facilitador das comunicações  e  permite o acesso rápido a conteúdos emocionais, que as vezes levam um tempo maior para aparecerem nas psicoterapias verbais. 

 – Pode a musicoterapia ser eficiente para crianças agitadas, nervosas, rebeldes?

Sim, com certeza. Se elas estao agitadas nervosas, rebeldes é porque deve haver uma causa e é preciso se chegar a essa causa.   Elas podem, por ex,  não estar sendo ouvidas, podem estar sendo muito exigidas, podem estar sendo agredidas, podem não estar tendo espaço para se expressarem livremente, podem não estar sabendo lidar com suas próprias emoções… uma série de fatores podem ser os causadores dessa agitação e nervosismo. A musicoterapia podera ajudá-las : 1) criando um espaco para que elas se expressem livremente, sem nenhum tipo de censura ou repressão;   2) identificando a causa dessa agitação e nervosismo; e 3 ) habilitando as próprias crianças a identificarem seus estados emocionais  e treinando-as  para sair deles, quando estes forem disfuncionais, ou seja, não lhes fizer bem.

– Pode a musicoterapia ajudar idosos que chegam numa idade de depressão?

De-pressão é o contrário de ex-pressão: envolve um movimento de retraimento da pessoa, ao invés de um movimento de expansão. Uma pessoa deprimida pode ter sentimentos de fracasso, culpa,  punição, tristeza, pessimismo,  acompanhados de choro, irritabilidade, insônia,  fadiga, perda de apetite, perda de peso, perda da libido. No caso de idosos com depressão, sim, eles são altamente beneficiados pela musicoterapia, principalmente através da musicoterapia em grupo, onde eles se sentem incluídos, e podem compartilhar através da música e da relação que eles criam entre eles e o terapeuta, seus sentimentos, através da música, podendo colocar tambem o corpo em movimento, se ressignificando de diversas formas e reencontrando a alegria de viver.  A música é um excelente instrumento para aqueles que ficam intimidados com as psicoterapias verbais e não se sentem `a vontade para se expor, pois utilizando-se a música não é necessário verbalizar os problemas. A depressão em idosos pode ocorrer por diversos motivos, mas muitos deles se deprimem quando param de trabalhar, de produzir, de se divertir. A nossa sociedade criou a ideia de que  depois de se atingir uma certa idade a pessoa fica “demodée”, fora de moda, tem que se aposentar compulsoriamente, e com isso ela deixa de se realizar profissionalmente. Também deixa de curtir a vida, de se apaixonar, de ousar. Na musicoterapia tenta-se desconstruir essa idéia e fazer a pessoa perceber que ela é um ser criador permanente e que ela pode se recriar sempre, independentemente da idade que possui. Na revista SUPER INTERESSANTE há uns dois meses saiu uma reportagem mostrando a musicoterapia como o terceiro tipo de terapia mais eficaz para o tratamento da depressão.

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